Algumas histórias, de tão conhecidas e representadas, tornam desnecessárias novas incursões, caso não haja elementos interessantes ou abordagens novas a explorar. É o caso de Frankenstein, o clássico da britânica Mary Shelley que completa 200 anos em 2018. Infelizmente, Victor Frankenstein não sabe aproveitar esta premissa e falha terrivelmente em seu intento.
A começar pelo título. Supõe-se que o protagonista será o médico e criador do famoso monstro, certo? Errado. Quem narra a história é Igor (Daniel Radcliffe, da saga Harry Potter), personagem que não existe no romance, mas que foi incorporado ao "cânone" da história, de tantas participações que tem em obras sobre Frankenstein.
Até ai tudo bem, vamos conhecer a história pelo ponto de vista de Igor, que ganha importância, uma história introdutória de abuso num circo e se torna amigo de Victor (James McAvoy, da nova saga X-Men). Só que não. O roteiro de Max Landis (Poder Sem Limites) é falho de tal forma que as motivações dos personagens não são convincentes, as tramas paralelas não fazem sentido, os diálogos são previsíveis e toscos ("Meu nome será lembrado", repete o cientista em vários momentos da projeção), além do elenco estar claramente mal aproveitado em cena.
Pra quem gosta de bromance, a história abre margem...rs |
Se Radcliffe até consegue convencer como um inteligente, mas sofrido "ex-corcunda", e McAvoy tem seus momentos como um gênio obsessivo, ambos são constantemente sabotados pelo roteiro. O pai de Frankenstein (Charles Dance, de Game of Thrones, desperdiçado em apenas uma cena) surge para criar um conflito familiar que servirá de motivação para Victor sonhar em criar vida - ganha um doce quem disser que ele perdeu um ente querido e se traumatizou com a morte por isso. A acrobata Lorelei (Jessica Brown Findlay) se resume a ser o interesse amoroso de Igor. Nada mais.
Já Andrew Scott (Sherlock) parece estar em seu inferno astral em 2015: depois do opaco papel em 007 Contra Spectre, seu Inspetor Turpin é retratado como um antagonista plano, cujos objetivos são resumidos a um fanatismo religioso que peca pela superficialidade.
Pobre Scott: 2015 não foi seu ano na telona... |
Por outro lado, a direção de Paul McGuigan (Xeque-Mate), que dirigiu quatro episódios de Sherlock, tem seus momentos inspirados, especialmente nas sequências em câmera lenta e na sobreposição de desenhos anatômicos sobre corpos. A direção de arte e os figurinos também são razoáveis, apesar de cumprirem papel protocolar: nenhum sentido extra advém do cenário e das roupas dos personagens na construção da história - mas se nem o roteiro funciona, pedir isso da direção de arte é demais.
Ao pesquisar sobre Max Landis, vi que é de sua autoria o roteiro de American Ultra, também em cartaz. Se o longa de comédia trouxer metade dos problemas vistos em Victor Frankenstein, podemos economizar a ida ao cinema...
Victor Frankenstein (2015)
Direção: Paul McGuigan
Roteiro: Max Landis
Elenco: James McAvoy, Daniel Radcliffe, Andrew Scott, Jessica Brown Findlay e Charles Dance
Nota: 2/5
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