sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

2015: O Ano da Virada na TV Brasileira

Pensei para o título desse post algo como "As cinco melhores novelas de 2015", mas o ano foi tão atípico que é melhor (tentar) analisar o que se passou. Não tivemos cinco novelas de sucesso em 2015, e sim novelas e autores que souberam entender o momento atual da teledramaturgia brasileira e se adaptar da melhor forma. Esse é o caminho.



O que não fazer na faixa das 21h

Já falei sobre o fracasso de Babilônia em outro post. A lição do fiasco de Gilberto Braga foi captada pela Globo: insistir na fórmula de tramas urbanas, violentas, com vilões megalomaníacos e subnúcleos em favelas não dá mais.
Em um breve retrospecto, desde que a faixa de horário nobre passou a ser chamada "das 21h" ao invés de "das 20h", tivemos:

Insensato Coração (2011) - Gilberto Braga - Urbana
Fina Estampa (2011) - Aguinaldo Silva - Urbana
Avenida Brasil (2012) - João Emanuel Carneiro - Urbana
Salve Jorge (2012) - Glória Perez - Urbana/ Exótica (Turquia) 
Amor à Vida (2013) - Walcyr Carrasco - Urbana
Em Família (2014) - Manoel Carlos - Urbana / Rural (Primeira fase)
Império (2014) - Aguinaldo Silva - Urbana
Babilônia (2015) - Gilberto Braga - Urbana
A Regra do Jogo (2015) - João Emanuel Carneiro - Urbana


Deu pra sacar? Há cinco anos, a única vez que vimos cenários diferentes dos retratados incessantemente nas grandes metrópoles (basicamente o Rio) foram a Capadócia de Salve Jorge e a cidade interiorana de Goiás de Em Família. Como as duas novelas foram problemáticas (por outras razões), o saldo é praticamente negativo no quesito cenário rural no horário das 21h.
Qual a solução? Velho Chico, que está prevista para substituir A Regra do Jogo em 2016. Autor do sucesso atemporal O Rei do Gado, que voltou a fazer sucesso reprisada no Vale a Pena Ver de Novo, o velho Benedito vai orientar a filha Edmara Barbosa, sua parceria em quase todas as produções televisivas, mais uma vez ao lado do diretor Luiz Fernando Carvalho.


Outra novidade de peso na primeira fase da novela é a participação de Rodrigo Santoro, longe das telinhas brasileiras há 12 anos, quando sua carreira o levou a Hollywood. Na fase seguinte, seu personagem será vivido por Antonio "Mezenga" Fagundes.

Enquanto isso, na faixa das 18h...


Por outro lado, 2015 não poderia ter sido melhor para as "novelinhas das 18h" do Plim Plim. Tanto Sete Vidas, de Lícia Manzo, quanto a atual Além do Tempo, de Elizabeth Jhin, caíram no gosto do povo. Folhetim que terminou no início do ano, Boogie Oggie, de Rui Vilhena, também mandou bem.
É mais fácil agradar o público desse horário? Pelo contrário, muita gente reclama que não consegue assistir TV por estar trabalhando, ou voltando do serviço. Nesse ponto, a tradicional faixa das 20h/21h sempre leva vantagem: boa parte do público com mais de 40 anos já está em casa, jantando e disposto a assistir algo interessante. Os mais jovens, quando querem acompanhar, assistem nas plataformas digitais. Ponto para o GloboPlay.


Então qual o segredo das novelas das 18h? Talvez a maior liberdade de criação, já que é a faixa dedicada aos autores estreantes. Apesar da tradição de se investir em tramas de época, quando o tempo é atual o sucesso continua. Está sendo assim com a fase atual de Além do Tempo, o mesmo com Sete Vidas.

Para o começo de 2016, Êta Mundo Bom vem aí, trazendo Walcyr Carrasco de volta ao horário que o consagrou com sucessos como O Cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta. Elizabeth Savalla, seu "medalhão", também estará lá. A trama, rural e de época, tem tudo para emplacar. O protagonista será o simpático Sergio Guizé, que roubou a cena em Alto Astral.
Walcyr, aliás, é um case na Globo: tanto Amor à Vida - a novela mais longa da lista das 21h acima, com 221 capítulos - quanto Verdades Secretas fizeram sucesso. Essa última, por ter usado e abusado dos temas adultos e picantes que a faixa das 23h permite. A tendência deve continuar ano que vem...


Os Dez Mandamentos: divisor de águas
Perdoem o trocadilho, mas não dá pra evitar! Os Dez Mandamentos ganhou todos os holofotes em 2015, abocanhou boa parte do público da Globo e fez a Record ser líder de audiência pela primeira vez. Um marco na história da nossa teledramaturgia. Algo assim não acontecia desde a longínqua Pantanal (1990), da extinta TV Manchete, também assinada pelo mestre Benedito Ruy Barbosa.


Apesar da qualidade discutível do enredo e das atuações, a trama bíblica ganhou pontos pela qualidade da produção e dos efeitos especiais, com destaque para os capítulos que retrataram as pragas do Egito e a abertura do Mar Vermelho. O sucesso foi tanto que uma sequência já está em produção: Josué e a Terra Prometida estreia ano que vem, enquanto a reprise da série Rei Davi está "cobrindo o buraco" da programação.

A lição que fica pra emissora de Edir Macedo é investir nas tramas bíblicas e melhorar a qualidade (e agilidade) das produções. Não ter uma trama inédita para suceder Os Dez Mandamentos foi erro de principiante. A audiência que havia sido "fidelizada" já voltou para a Globo, como mostram os números recentes de A Regra do Jogo... A sucessora, Escrava Mãe, acabou sendo adiada para janeiro. A trama conta a história da mãe da Escrava Isaura.

Mas nem tudo é amadorismo na Record: a negociação com a Netflix, que exibe a "primeira temporada" da novela, e a adaptação para o cinema de Os Dez Mandamentos foram jogadas de mestre.


O segredo são os nichos


A Record fez a lição de casa: novelas bíblicas é com ela! Quem deu o start na especialização em nichos foi o SBT, que investe em novelas infantis, público desprezado pela Globo desde o fim da programação de desenhos com a consolidação do Encontro e a estreia de É de Casa. A emissora do baú não abre mão de outra de suas características: a exibição de novelas da mexicana Televisa. A reprise pela enésima vez de Maria do Bairro teve direito a memes e hashtags! Soraya Falsiane hahaha
Esse é o segredo: cada um no seu quadrado. Em tempos de Netflix e séries americanas a torto e a direito, o negócio é investir nos nichos, fazer produções de qualidade e ser feliz. O público só tem a ganhar...


Séries e Minisséries, suas lindas!
Não tem como deixar de elogiar a retomada da produção de minisséries e séries pela Globo. Em formato reduzido, assim como as recentes O Canto da Sereia, Amores Roubados e Felizes para Sempre, vem aí duas produções de época que prometem: Ligações Perigosas, de Manuela Dias e supervisão de Duca Rachid, revisita o clássico de Choderlos de Laclos (1782), com Selton Mello e Patricia Pillar.

Nada Será Como Antes, com Murilo Benício e Débora Falabella, vai contar a história da TV brasileira. Série assinada por Guel Arraes e dirigida por José Villamarim, deve estrear no primeiro semestre.

O que achou de 2015 na TV brasileira? Esqueci alguma coisa? Deixe seu comentário!

2 comentários:

  1. Comparando o cenário brasileiro com as novelas achei as duas das nove bem coerentes. Mas compreendo que, infelizmente, o país não está preparado pra ver a política exposta de diversas maneiras na TV. Boa crítica. Só esqueceu do estrondoso sucesso de Verdades Secretas. Que venha 2016!

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    1. Valeu, Marcelo! Sempre bom trocar ideia contigo sobre a nossa teledramaturgia hehe

      PS: Verdades Secretas eu citei ali na parte do Walcyr, realmente ele tá acertando em todas: nas 18h, nas 21h e agora nas 23h hahaha

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