domingo, 28 de agosto de 2016

Cinema: Ben-Hur (2016)

Quando um estúdio/cineasta vai (re)adaptar um clássico, já começa perdendo: não adianta falar que não é um remake, que a inspiração é a obra literária original, que a roupagem é outra e etc. A sombra do clássico sempre estará lá. 
Quando estamos falando do mega épico Ben-Hur - maior recordista de premiações no Oscar ao lado de Titanic e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei - eleve isso à décima primeira potência, para "ornar" com o número de Oscars recebidos pela obra-prima de 1959, dirigida por William Wyler e estrelada pelo titã Charlton Heston.


Dirigido pelo russo Timur Bekmambetov, do controverso Abraham Licoln - Caçador de Vampiros, Ben-Hur mostra na escalação do elenco que não veio ser um novo clássico, e muito menos deseja "bater" o longa de Wyler: não temos nenhum nome de peso de Hollywood entre o trio principal.

Jack Huston (Trapaça) encarna o príncipe judeu Judah Ben-Hur com um claro "apelo teen", especialmente no visual, enquanto Toby Kebbell (Quarteto Fantástico) dá vida ao romano Messala Severus de forma eficiente, mas sabotado pelo roteiro mediano de John Ridley e Keith R. Clarke. Suas motivações são rasas e não justificam a mudança de caráter, que acaba soando repentina e sem sentido a quem assiste a história pela primeira vez.
Ainda sobre a dupla protagonista X antagonista, é preciso destacar que o componente homoafetivo entre Ben-Hur e Messala é ignorado: enquanto no filme de 1959 o ator Stephen Boyd claramente trouxe à cena o sentimento de amor renegado, enquanto Charlton Heston "sabia de nada, inocente", deixando tudo ainda mais peculiar, em 2016 dá para dizer que a relação não passa de um "bromance".

O trio principal se completa com a competente atuação de Rodrigo Santoro como Jesus, que se torna um "amigo das ruas" de Ben-Hur em Jerusalém, aparecendo em três ou quatro cenas antes, durante e depois dos eventos que marcarão a trajetória trágica do príncipe judeu.

Já o Sheik Ilderim é vivido no piloto automático por Morgan Freeman - ele sim o único "ator de peso" do longa. E mais uma vez, o roteiro mostra suas falhas: Ilderim passa de um negociante árabe em busca de dinheiro para um padrinho generoso, disposto a arriscar sua fortuna por Ben-Hur na corrida de bigas, de uma hora para a outra.
Completam o elenco Nazanin Boiadi (Esther), Ayelet Zurer (Naomi) e Sofia Black D'Elia (Tirzah), respectivamente esposa, mãe e irmã de Judah, mal aproveitadas em papeis rasos e secundários.

Conhecido pelas sequências de ação estilizadas, Timur mostra a que veio em duas cenas emblemáticas: o naufrágio da galé em que o escravizado Ben-Hur passa cinco anos "cumprindo pena", e a corrida de bigas, hora do acerto de contas entre o judeu e o romano. Mas há ressalvas: o movimento inquieto de câmeras nos deixa confuso, e o 3D poderia ser melhor utilizado.

Pode-se dizer que Ben-Hur é uma opção razoável de se apresentar a um novo público a história do nobre judeu traído por seu irmão de criação, que se torna escravo, corredor de bigas e recupera a honra ao derrotá-lo na arena. 
As mudanças no roteiro, porém, prejudicam a experiência como um todo: a vingança que motiva Judah é substituída abruptamente pela compaixão e jornada de redenção, e a reconciliação com Messala (que inexplicavelmente não morre na corrida de biga) nos minutos finais deixa um sabor agridoce de "novela meia boca". A mensagem passada é a melhor possível: união entre os povos a partir do sacrifício de Cristo pela humanidade. Mas poderia ter sido melhor trabalhada...

Se você não tem preguiça de assistir um bom épico, com proporções faraônicas representadas pelas 3h44 de duração e que impressiona mesmo 50 anos depois do lançamento, não hesite em conferir o Ben-Hur de William Wyler.

Ben-Hur (2016)
Direção: Timur Bekmambetov
Roteiro: John Ridley e Keith R. Clarke
Elenco: Jack Huston, Toby Kebbell, Rodrigo Santoro, Morgan Freeman, Nazanin BoiadiAyelet Zurer e Sofia D'Elia.
Nota: 2,5/5

2 comentários:

  1. Pessoalmente amei o papel de Sheik que Morgan Freeman fez. É um grande ator que geralmente triunfa nos seus filmes. Recém o vi em Apenas o Começo. Sendo sincera eu acho que a sua atuação é extraordinária, em minha opinião é o ator mais completo da sua geração, mas infelizmente não é reconhecido como se deve neste filme que para mim é um dos melhores Morgan Freeman filmes. Vale muito à pena, é um dos melhores do seu gênero. Além, tem pontos extras por ser uma historia criativa.

    ResponderExcluir
  2. Olá Julieta, obrigado pelo comentário! Morgan Freeman é, sem dúvidas, um dos atores mais talentosos de sua geração. Até por isso, o "piloto automático" dele já é suficiente em filmes como este Ben-Hur. A filmografia dele é extensa, repleta de ótimas atuações. Abraço!

    ResponderExcluir