Antes tarde do que nunca: a correria foi tanta esta semana que só hoje estou conseguindo postar sobre o primeiro debate entre os candidatos à Prefeitura de Curitiba, realizado na noite de segunda (22) pela TV Band Curitiba.
Tradicionalmente a primeira a abrir os debates, a emissora merece aplausos pela iniciativa de convidar os nove candidatos: em tempos de disputas para que figuras como Luiza Erundina (PSOL/SP) e Marcelo Freixo (PSOL/RJ) sejam convidados aos debates, todo incentivo ao pluralismo de opiniões e candidaturas deve ser enaltecido.
Com quase três horas de duração, o debate foi dividido em quatro blocos, onde os pleiteantes ao cargo de mandatário de Curitiba puderam inquirir-se livremente sobre temas variados, restando um bloco para as considerações finais. Áreas como educação, saúde, segurança pública e a integração do transporte coletivo foram as mais lembradas.
Baccio la mano, padrino...
As comitivas dos candidatos começaram a chegar a partir das 20h na TV Band. A vice-governadora Cida Borghetti acompanhou a filha Maria Victoria (PP), desejando sorte e tirando fotos com Rafael Greca (PMN). Dá para dizer que a vice de Beto Richa roubou a cena: não era raro ver pessoas indo falar com a mãe e ignorando a filha...
Requião Filho (PMDB) também trouxe o reforço paterno (o senador Roberto Requião), assim como Ney Leprevost (PSD), que veio com o aliado Ratinho Junior. Os "padrinhos", porém, entraram mudos e saíram calados da TV Band, evitando chamar muita atenção para si.
A chegada de cada candidato fazia aglomerar os repórteres na entrada da TV Band |
Os candidatos a vice-prefeito também marcaram presença na noite: Gustavo Fruet (PDT), acompanhado de Paulo Salamuni, e Requião Filho com o vereador Jorge Bernardi, seu colega de chapa. De longe, os vices mais bem preparados, ambos com experiência legislativa e reconhecidos pelo eleitor.
Bastidores do estúdio, minutos antes de começar o debate |
Penúltima a chegar, a candidata do PSOL, Xênia Mello, destacou o apoio que recebeu "da família, dos amigos e de seus orixás" na preparação para o debate, destacando o fato de ser umbandista e uma das únicas a utilizar os serviços públicos municipais: creche para o filho, transporte coletivo e etc.
Guaíra municipalizado e Fruet "poupado"
Em um dos momentos de "fogo amigo" , Requião Filho perguntou a Greca sobre suas propostas para a cultura na cidade. Em sua réplica, propôs a municipalização do Teatro Guaíra, que diz estar abandonado pelo governo estadual. A velha aliança peemedebista deu mostras novamente quando Greca treplicou: "Esse não nega ser filho da Maristela, quem sai aos seus não degenera". Assistindo no estúdio, Requião sorriu ao ouvir o ex-aliado.
Seria uma tentativa de resgatar o apoio num eventual 2º turno?
A mediação foi do jornalista Douglas Santucci |
As "tabelinhas" entre os oito candidatos "da oposição" continuaram nos dois primeiros blocos, abordando a gestão Fruet sem envolver o prefeito. Curiosamente, um dos blocos chegou ao fim e o único que não havia sido perguntado era o candidato à reeleição.
Com nervosismo transparecendo, Fruet tinha todos os números na ponta da língua e demonstrou conhecer bem a cidade que governa. Seu ponto fraco, como é sabido, é a retórica cansativa...
Imprensa acompanhando atenta, na redação da Band Curitiba |
Lava Jato e Massacre do 29 de Abril
Temas espinhosos, a Operação Lava Jato e o Massacre do 29 de Abril não foram esquecidos pelos candidatos. O primeiro gerou um "pedido coletivo" de direito de resposta, atendido para que os oito debatedores se defendessem da acusação de Xênia Mello de que "era a única cujo partido não estava envolvido na Lava Jato". As réplicas defenderam tanto a operação, quanto o trabalho do juiz Sérgio Moro. O nanico Afonso Rangel (PRP) disse até "usar um adesivo no carro".
Xênia Mello: responsável pelas colocações que todos têm vontade de fazer |
Já o 29 de abril gerou as maiores estocadas ao governador Beto Richa e, consequentemente, ao seu candidato apoiado, Rafael Greca - fato constantemente destacado por Gustavo Fruet.
Tadeu Veneri, Ney Leprevost e Requião Filho não pouparam críticas ao episódio e aos "deputados do camburão", defendendo os professores no conflito. Em saia justa, já que participou do episódio "do outro lado", Maria Victoria não se manifestou sobre o tema.
Em geral, porém, o debate foi morno. As críticas à administração de Fruet foram mais indiretas, entre os candidatos, do que direcionadas ao prefeito.
Já Greca, pela chapa montada com PSDB e DEM, e o fato de ser ex-prefeito, também recebeu boa parte dos petardos - em especial uma discussão com Leprevost sobre a atuação do pai deste na Copel. Greca justificou que "não tem compromisso com o erro alheio", sobre os apoios que recebe de Ducci e Richa.
Já Greca, pela chapa montada com PSDB e DEM, e o fato de ser ex-prefeito, também recebeu boa parte dos petardos - em especial uma discussão com Leprevost sobre a atuação do pai deste na Copel. Greca justificou que "não tem compromisso com o erro alheio", sobre os apoios que recebe de Ducci e Richa.
Gustavo Fruet: nervosismo à flor da pele, mas poupado de confrontos diretos |
Em resumo, vamos aos pontos altos e baixos dos principais candidatos:
Gustavo Fruet - De caráter irrepreensível, conhece bem a cidade e fez uma administração dentro do que foi possível. A falta de grandes realizações na gestão (ou da visibilidade delas para o eleitor) e a retórica cansativa, porém, são seu calcanhar de Aquiles.
Rafael Greca - Tem no saudosismo da "velha Curitiba", nas várias realizações como prefeito e no discurso afiado (e inteligente) suas principais vantagens. Seu ponto fraco é o próprio saudosismo cansativo, e a aliança com políticos que até ontem ele criticava.
Requião Filho - Fala bem, demonstra ser inteligente e tem "carreira" promissora. Como deputado de oposição, é uma das referências na Alep. Seu ônus e bônus na vida pública, porém, está no nome: o pai Roberto Requião.
Gustavo Fruet - De caráter irrepreensível, conhece bem a cidade e fez uma administração dentro do que foi possível. A falta de grandes realizações na gestão (ou da visibilidade delas para o eleitor) e a retórica cansativa, porém, são seu calcanhar de Aquiles.
Rafael Greca - Tem no saudosismo da "velha Curitiba", nas várias realizações como prefeito e no discurso afiado (e inteligente) suas principais vantagens. Seu ponto fraco é o próprio saudosismo cansativo, e a aliança com políticos que até ontem ele criticava.
Requião Filho - Fala bem, demonstra ser inteligente e tem "carreira" promissora. Como deputado de oposição, é uma das referências na Alep. Seu ônus e bônus na vida pública, porém, está no nome: o pai Roberto Requião.
Maria Victoria - Carrega toda a carga de ser filha do controverso Ricardo Barros, hoje ministro da Saúde. Também é bem articulada, com futuro promissor, mas demonstra claramente a inexperiência dos 20 e poucos anos em suas primeiras entrevistas como candidata. Seu partido, o PP, é o "campeão" de políticos investigados pela Lava Jato.
Ney Leprevost - Sua atuação como parlamentar é notável em muitos aspectos, e a retórica não é das piores. É outro candidato que demonstra conhecer bem Curitiba. A aliança com Ratinho Junior, assim como no caso dos "Requiões", é seu ônus e bônus nessa campanha.
Tadeu Veneri - O bom político no partido e momento errados. De longe, é o melhor deputado estadual paranaense. Sua vontade de reerguer o Partido dos Trabalhadores é louvável, chega a evocar a figura do fictício senador Caxias (Carlos Vereza) de O Rei do Gado. Mas ser candidato pelo PT não é mole...
Xênia Mello - Feminista, da periferia, defensora da comunidade LGBT, tem bandeiras que em 2016 deveriam ser defendidas por todos - mas infelizmente não são. Xênia é a única candidata que vive e conhece a realidade do povo curitibano, usa os serviços públicos e aborda assuntos realmente relevantes. Sua rejeição se dá pelo fato de ser jovem, militante e com todas as pechas (muitas vezes injustas) que a oposição de esquerda carrega.
Apesar de tudo, acompanhar ao vivo é muito bacana ;) |
Muito boa a cobertura. Não vi o debate, nem fiquei sabendo, que horror!! E como disse você, acompanhar ao vivo é mesmo bacana!
ResponderExcluirRealmente, é daqueles momentos bons de ser jornalista. Obrigado, Marilena!
Excluir