Mais uma seção estreando no Diário, dessa vez voltada aos textos que escrevemos e nunca publicamos, seja por falta de vontade, falta de local apropriado ou mesmo como exercício de escola ou faculdade.
É o Do fundo da gaveta, que começa com um perfil feito há quatro anos, quando cursava a disciplina de Redação Jornalística II com o professor José Carlos Fernandes, o Zeca - jornalista que dispensa apresentações... A proposta era fazer um breve perfil de uma personalidade interessante, aos moldes do que o mestre faz em sua coluna semanal às sexta-feiras, na Gazeta do Povo.
O retratado é um dos professores mais incríveis que já tive, quando cursei o cursinho pré-vestibular do Positivo. Segue o texto, escrito originalmente em 5 de maio de 2011:
Luis, o Salvador da Pátria
Bom-humor e simpatia marcam as
aulas e a personalidade do professor Luiz, um sujeito boa praça que já deu
aulas, quem diria, para outro Luis, o Luiz Inácio
Definitivamente, estresse não faz
parte de seu vocabulário. O que é incrível para um professor de curso pré-vestibular.
E de Matemática. Quem já teve a oportunidade de assistir aula com Luiz Antonio
Marques sabe bem do que se trata.
Mas quem é Luiz Antonio? Essa é uma dúvida bem comum dentre os alunos
mais desatentos do professor. Afinal, ninguém – a não ser sua família e os
amigos mais antigos – o tratam por Luiz. Agora se alguém perguntar pelo Sassá, raros
os que não abrem um sorriso.
As razões dessa enorme simpatia,
e do bom relacionamento com os alunos, saltam aos olhos. A descontração talvez
seja a principal virtude de Sassá. Além dela, acrescenta-se muito bom humor
para lidar com a maratona de aulas do cursinho, e com os exercícios mais
“cabeludos” que sempre aparecem no caminho dos vestibulandos.
Para entender como a relação
professor-aluno se dá, imagine a seguinte cena: é noite. Um dia longo de
trabalho e estudo se passou, e os alunos não veem a hora do sinal das 23 horas
tocar indicando que finalmente poderão ir para casa. Porém, ainda falta uma
aula de Matemática, que está para começar. Eis que uma figura risonha, baixa,
com uma careca rodeada de poucos cabelos pretos e um vasto bigode adentra a
sala de aula. Ele parece familiar – ora Lima Duarte na pele de Sassá, ora um
jeitão de sindicalista do ABC, bem ao modo de quem deu aulas para o Lula.
Aguarde para saber, “Bá noite! Bá noite”, cumprimenta ele. Logo vem a primeira
piada. O clima começa a se alterar.
Na sequência, surge um exercício
que todos têm medo só de olhar. Sassá não é diferente. Sua expressão de “pavor”
diante da empreitada Matemática é digna de Oscar. No entanto, começa a
resolução, explicando pausadamente, e sempre deixando para o aluno dar o
próximo passo. Em poucos minutos o exercício está resolvido. Sassá finaliza
soprando o giz com um ar de caubói de Velho Oeste. “Desse jeito é mais simples,
mas tem uma outra forma de resolver...Não sei se eu falo, porque é uma delícia
sabe?”, comenta numa ironia fina, arrancando risos, tarde da noite. Coisa de
mestre.
O gosto do professor pelas composições
de Mário Lago, em especial pela marchinha de carnaval “Aurora” – que ele canta quase sempre no início
das aulas – é uma marca de sua personalidade. “Veja só que bom que era, Aurora!
Se você fosse sincera, Aurora”. Ele
conta que sempre gostou da marchinha, mas não sabia sua letra de cor. “Eu pedi
para um aluno me trazer a letra, isso se espalhou, uns cinco anos atrás, e
agora tem aluno com ‘Aurora’ até como toque do celular”, diz ele, às risadas.
Luiz Antonio é um sexagenário
paulista. Aluno “CDF”, conta que gabaritou as provas de Matemática e Física no
seu vestibular. Tipicamente “das exatas”, não tem afinidades com as demais
áreas, apenas simpatiza com Geografia. Formado em Engenharia Civil, nunca
exerceu a profissão, já que, desde sua época de cursinho, em 1967, dava aulas
particulares. Três anos depois, passou a lecionar pra valer num curso
supletivo. Contudo, os dez anos mais interessantes de sua longa carreira como
professor estavam logo por vir.
“Em 1973, eu entrei para o
Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Lá,
dava aulas num curso supletivo de primeiro grau. Na terceira, quarta fileira,
da sala de aula se sentava um aluno bem quieto, mas muito brincalhão quando a
aula acabava. Era o Lula”, lembra Sassá.
Sim, Luiz Antonio Marques foi
professor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Lula era tesoureiro do
Sindicato naquele então. O presidente, Paulo Vidal, também não tinha terminado
o primeiro grau, mas falava bem pra caramba, tinha postura e uma instrução até
que boa. Quem via os dois, nunca ia imaginar que Lula seria o presidente do
Brasil”, relata.
Sassá lembra também que, desde
sempre, sua relação com os alunos foi boa. Em São Bernardo, saía com Lula, Djalma
(deputado federal pelo PT-SP), Almir Pazzianotto (jurista paulista) e outros
para tomar um caldo de mocotó ótimo que tinha perto do sindicato. E, é claro,
também tomavam uma cachacinha, tão característica de Lula.
Os anos se passaram, Luiz Antonio
saiu do Sindicato e nunca mais viu Luiz Inácio. “Acho que se ele der de cara
comigo ainda é capaz de se lembrar de mim”, fala. Sassá conta que o
ex-presidente concluiu o supletivo de primeiro grau, mas não tem certeza se ele
fez o do segundo. É possível que Sassá tenha sido um dos poucos professores de Lula.
Em 1977, Luiz entrou para o
Anglo, cursinho pré-vestibular da capital paulista. Lá ficou por 20 anos.
Dentre as várias amizades que fez, se destaca a de Gilberto Lavras. “O Giba
quem me deu o apelido de Sassá, por causa do personagem do Lima Duarte”, conta.
A novela era O Salvador da Pátria e,
curiosamente, a história do personagem Sassá Mutema era bem semelhante à de
Lula. Coincidência? Quem sabe...
Pois bem, foi graças à amizade
com Giba que Sassá foi convidado para vir a Curitiba, em 1997, lecionar no
cursinho em que está até hoje. Muito mudou nesses 41 anos de docência, afirma
ele, e o que mais chama atenção é o perfil de seus pupilos. “Antes não tinha
tanta proximidade com os alunos. Hoje não, sinto que sou querido, eles sempre vem
me cumprimentar, dão oi quando me veem no shopping. É muito bacana”.
Sua vida é bem pacata. Casado há
37 anos, Sassá é pai de duas filhas e avô coruja de duas netinhas. Sempre que
pode, leva a neta mais velha, de 8 anos, para a escola. Nas horas de lazer,
gosta de ir ao teatro. Palmeirense, diz que ia mais aos estádios quando novo,
mas agora só pela televisão mesmo. “Na correria do cursinho, tem dias que gasto
horas em casa produzindo as novas apostilas que estão para sair. Não dá tempo
nem de ler um livro!”, desabafa.
A correria, porém, não faz com que ele perca seu bom
humor tão característico. Ao descer as escadas do cursinho, encontra um grupo
de alunos. Eles logo sorriem, e entoam a saudação “Ssssssssassá” para o mestre,
que ri timidamente. Pois é, até o “salvador da pátria” pré-vestibulanda tem
seus momentos de timidez...
PS: Um breve vídeo do professor Sassá, desejando bom vestibular aos alunos, gravado em 2007 e disponível no Youtube:
Sensacional ! Vc conseguiu retratar perfeitamente quem ele é. Parabéns !
ResponderExcluirAssinado pela Filha e fã do prof. Luiz Sassá, Danielle Thiesen Marques
Olá Danielle, fico feliz que você tenha gostado do texto! Muitos professores passam pela nossa vida, mas poucos marcam como o Sassá, ainda mais numa época tão turbulenta quando o pré-vestibular. Soube que ele se aposentou, mande um abraço ao mestre! E outro para você =)
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