sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Cinema: Vai Que Cola, O Filme

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Dirigido por César Rodrigues (Uma Professora Muito Maluquinha e A Dona da História), com roteiro e produção de Luiz Noronha (2 Filhos de Francisco e A Mulher Invisível), Vai Que Cola leva para a telona a trama conhecida pelo público que acompanha a série do Multishow desde 2013. Os pontos altos e baixos da comédia, não por acaso, estão justamente relacionados a esta característica. 

Paulo Gustavo é um inegável fenômeno da comédia brasileira. Sua obra multimídia Minha Mãe É uma Peça - que começou no teatro, foi para a TV, se consagrou no cinema (2012) e virou até livro - leva o público às gargalhadas com as situações exageradamente cômicas de Dona Hermínia, uma zelosa mãe de classe média. Fator este que salva o filme, apesar da construção sofrível do roteiro, basicamente um amontoado de esquetes. 


Vai Que Cola também sofre desse mal, mas se sai melhor por um motivo simples: Noronha é um roteirista melhor que Gustavo. Poucos são os casos, para não dizer raros, em que filmes dirigidos, escritos, produzidos e estrelados por um mesmo profissional dão certo.


Num rápido primeiro ato, o longa apresenta para o público - que não se vê obrigado a conhecer os personagens da série televisiva - Valdomiro (Paulo Gustavo), um trambiqueiro que vive no conforto do Leblon, mas que acaba sendo passado para trás pelos sócios e, procurado pela polícia, se vê obrigado a se esconder no Méier, no subúrbio carioca.
Acolhido pela gentil Dona Jô (Catarina Abdalla) em sua pensão, Valdomiro passa a vender quentinhas e a conviver com um leque de personagens estereotipados - para o bem e para o mal: Jéssica (Samanta Schmutz), Ferdinando (Marcus Majella), Terezinha (Cacá Protásio), Velna (Fiorella Mattheis), Máicol (Emiliano D'Ávila) e Wilson (Fernando Caruso).


Se na TV o elenco pode ser melhor aproveitado, cada episódio enfocando um personagem, por exemplo, isso não acontece no longa: à exceção de Ferdinando, Jéssica e Dona Jô, os demais deixam bastante a desejar, alguns sem o menor sentido quando aparecem em cena - estou até agora tentando entender a sequência sem conclusão entre Máicol, Velna, Jéssica e Klébber Toledo, numa ponta como ele mesmo.


O segundo ato, com os personagens obrigados a sair da pensão de Dona Jô, tendo de ser abrigados por Valdomiro - que recupera a cobertura no Leblon, em esquema orquestrado pelo ex-sócio Andrada (Márcio Kieling)-, vai além do que o público está acostumado a ver na série televisiva. Vale ressaltar duas sequências hilárias: a corrida de Terezinha para o mar (referência a Vovozona 2) e Ferdinando gravando um vídeo na piscina à la Luisa Marilac, a travesti brasileira que virou fenômeno na internet.


Vai Que Cola também ganha pontos quando investe naquilo que tem de melhor: seu protagonista, suas tiradas escrachadas e a quebra da quarta parede, quando Valdomiro/Paulo Gustavo conversa com o público. A metalinguagem é usada de tal forma que mistura personagem e ator: se numa hora temos Valdomiro comentando conosco o quão bregas seus amigos do Méier são, atravessando a rua para ir à praia, logo em seguida somos brindados com comentários irônicos como "não precisa de figuração nessa cena, vocês estão aqui para me ver" e "não sei porque fui aceitar fazer esse filme".
Apesar da quarta parede ser quebrada apenas por Gustavo, um dos melhores comentários é feito por Ferdinando: na cena em que Valdomiro se disfarça de mulher para conseguir passar pelo síndico (Oscar Magrini), ouve do amigo a pérola "todo mundo sabe que você só tem graça vestido de mulher", em referência à Dona Hermínia. O fato de não se levar a sério, aliás, é o maior trunfo da comédia, que critica sutilmente o mundo de ostentação em que vivem os moradores do Leblon.


O fato de ter surgido numa série de TV a cabo merece outra menção positiva: Vai Que Cola é uma das primeiras empreitadas no cinema sem um elenco "global", nem o apoio maciço da Globo Filmes. Mais uma prova de que a TV aberta, sua programação e influência está em franco declínio no país, enquanto as produções da TV por assinatura e canais da internet ganha cada vez mais força. Que o diga Fábio Porchat e a galera do Porta dos Fundos...

Vai Que Cola, O Filme (2015)
Direção: César Rodrigues
Roteiro e produção: Luiz Noronha
Elenco: Paulo Gustavo, Catarina Abdalla, Samanta Schmutz, Marcus Majella, Cacá Protásio, Fiorella Mattheis, Emiliano D'Ávila e Fernando Caruso.
Nota: 3/5

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