domingo, 25 de outubro de 2015

Cinema: A Colina Escarlate e A Travessia

Comecei a escrever sobre Cinema na semana passada, com a crítica de Vai Que Cola, o Filme. Como não é sempre que conseguimos assistir aos filmes na semana de estreia, acho justo fazer uma diferenciação entre críticas e resenhas

Enquanto o primeiro tipo propõe uma análise mais aprofundada sobre o fazer cinematográfico, exercitando os conceitos de crítica sobre a sétima arte, o segundo tipo (resenha) se limita a fazer um resumo comentado da obra, em linhas gerais.

Como só consegui assistir A Colina Escarlate e A Travessia neste final de semana, me limitarei a fazer uma resenha de cada filme, a seguir...
O segredo está no vermelho
Dirigido e produzido por Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno, Círculo de Fogo), em roteiro escrito a quatro mãos com Matthew Robbins, A Colina Escarlate tem vários trunfos a seu favor: enredo envolvente, fotografia e direção de arte competentes, que nos levam aos Estados Unidos (e depois à Inglaterra) do início do século 20, e um elenco muito bem escolhido, em que não só se destaca o trio principal, como os coadjuvantes.

A jovem Edith (Mia Wasikowska), escritora de uma família de posses de Buffalo (EUA), acaba se envolvendo com o sedutor baronete Thomas (Tom Hiddleston), em visita ao país à procura de investimentos para uma máquina que permitiria a extração de argila de sua propriedade, andando sempre acompanhado da misteriosa irmã Lucille (Jessica Chastain). Após a morte de seu pai (Jim Beaver, o eterno Bobby de Supernatural), Edith se casa com Thomas e vão morar na mansão em ruínas da família Sharpe, na Inglaterra, onde se desenrolam os eventos do segundo e terceiro atos.

A fotografia e direção de arte, como o próprio título da obra nos indica, usam e abusam do vermelho/escarlate para nos passar a simbologia da trama: Lucille é apresentada em cena usando um vestido vermelho-sangue que contrasta com os tons claros e dourados do restante dos convidados à festa dos McMichael, assim como seu anel de família com uma pedra rubra - e a própria argila escarlate, que dá nome à colina onde se encontra a casa-, passam o recado de perigo, paixão e morte que se aproximam à vida de Edith.
Por fim, as atuações de Mia, Tom e Jessica estão todas no tom certo, um desafio, já que outros filmes do gênero acabam descambando para excessos desnecessários. Jessica Chastain, em especial, consegue nos transmitir toda a loucura, frieza e paixão monstruosa de Lucille. Aliás, em tempos de personagens femininas sendo motivo de "boicotes" por grupos de retrógrados imbecis, é louvável assistir um filme em que as personagens femininas não só são as mais fortes em cena, mas tomam atitudes sem depender dos homens, claramente em segundo plano na trama. (Nota 4/5).


Emoção com a marca de Zemeckis
A Travessia conta a história de Philippe Petit (Joseph Gordon-Levitt), um artista francês que, desde a infância, busca encantar e surpreender o público com seu trabalho: acrobacias em cordas . Seu espírito aventureiro e subversivo, porém, não se limita as apresentações na rua, em parques e locais costumeiros desse tipo de performance na década de 1970. Depois de cruzar as torres da Notre Dame, em Paris, Philippe deseja ser visto e reconhecido em todo o mundo, tendo como objetivo de vida atravessar as Torres Gêmeas do então recém construído World Trade Center, em Nova York.

Com a direção elegante de Robert Zemeckis - em alta esta semana devido à "chegada ao futuro" de Marty McFly, seu icônico personagem de De Volta para o Futuro - A Travessia traz elementos de outra obra-prima do diretor: Forrest Gump. Além da história de Philippe ser contada em tons que beiram o fabulesco, como a de Forrest em alguns momentos, a trilha sonora é assinada por Alan Silvestri, parceiro de Zemeckis nas três obras citadas, que dá o tom exato para emocionar sem ser piegas.
Sir Ben Kingsley, na pele do mentor acrobata, e o elenco que mescla atores americanos e franceses são bem utilizados em cena. As referências à França, aliás, não são tão óbvias e previsíveis como Hollywood costuma realizar, inclusive ironizando a terra dos gauleses em diálogos como "num país que tem um tipo de queijo para cada dia do ano, é lógico que as metáforas envolvem culinária", em referência ao ditado "les carrottes sont cuites", uma espécie de "a sorte está lançada" à francesa.

Gordon-Levitt merece um parágrafo à parte, tamanha sua entrega ao personagem - algo recorrente em sua carreira. Philippe não só convence e envolve o público, como seu trabalho de voz e diálogos, mesclando francês e inglês, se equiparam a atores nativos. Fantastique! (Nota 4/5).

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