quarta-feira, 29 de junho de 2016

Especial Séries - Penny Dreadful

Penny Dreadful foi uma das mais gratas surpresas quando estreou, em maio de 2014. O nome faz referência às publicações baratas (de apenas um penny) sobre histórias de terror, populares no final do século 19 e início do 20. O enredo apresenta de forma hábil os principais personagens que surgiram na literatura, ganharam as telas vêm influenciando a cultura pop desde então: a família Murray (Drácula), Victor Frankenstein, Ethan Talbot (O Lobisomem), Dorian Gray Henry Jekyll (O Médico e o Monstro).

ALERTA DE SPOILERS

Em meio a essa vastidão de tramas e protagonistas, a série da Showtime não só é muito mais eficaz no intento que outras obras - como o filme A Liga Extraordinária (2003), que traz parte dos personagens e falha de forma bisonha - como introduz uma personagem original que supera os demais em magnitude e força: Vanessa Ives, interpretada pela incrível Eva Green.
Penny Dreadful só é o que é graças a Miss Ives e sua eterna luta, interna e externa, contra as trevas. Na primeira temporada, em busca de resgatar a amiga de infância Mina Murray, enfrentou a influência nefasta e física de Drácula e seus vampiros. No ano seguinte, o conflito passou para sua alma, desejada por ninguém menos que Lúcifer - representado pelas bruxas necromantes lideradas por Madame Kali/ Evelyn Poole (Helen McCroy).

O terceiro - e último - ano da saga nos revela que Drácula (Christian Camargo, de Dexter) e Lúcifer são irmãos da escuridão, ambos interessados em Vanessa, em seu corpo e alma, respectivamente. Cada um a seduziu ao longo da vida como pôde, mas cabe a ela e a seu livre arbítrio se entregar às trevas ou resistir. O complexo, entretanto, é que Miss Ives sempre foi um "peixe fora d'água" justamente por não abraçar seu "lado negro", e se sente incompleta por isso.
O episódio da revelação acima, aliás, é de longe o melhor da série: em sua terapia com a Dra Seward (Patti LuPone, de volta à saga depois da importante participação como Joan Clayton no ano anterior), Vanessa relembra tudo o que viveu no período em que foi internada num sanatório para doentes mentais. E contracenando apenas com John Clare (Rory Kinnear), a persona da Criatura de Frankenstein antes da morte/ressurreição. A Criatura, aliás, é outro trunfo da série, o personagem mais complexo depois de Vanessa...

“Você crê na existência de um semi-mundo? Um meio mundo entre o que sabemos e o que tememos?”. Vanessa Ives

Além de Eva Green, Penny Dreadful consegue reunir um dos elencos mais coesos do gênero: Timothy Dalton dá vida a Sir Malcolm Murray, a figura paterna do grupo; Josh Hartnett vive o atormentado Ethan Chandler, que depois descobrimos ser Talbot, amaldiçoado com a licantropia dos índios apaches americanos; Harry Treadaway encarna um Victor Frankestein muito mais eficiente do que a versão vista no filme homônimo com James McAvoy; Billie Piper, por sua vez, vive de forma intensa a "noiva" de Frankenstein, Lily.
O único elo fraco é Dorian Gray. O personagem mais famoso de Oscar Wilde ainda não foi captado como merecia pela TV e cinema: além de Reeve Carney, Ben Barnes e Stuart Townsend interpretaram nos últimos anos o nobre imortal, que fez um pacto para que seu retrato sofresse com a passagem do tempo, e dos crimes que comete, em seu lugar. Todos de forma mediana. Enquanto o componente homossexual do personagem não foi a tônica motriz de seu caráter, Dorian seguirá nas sombras da interpretação incompleta...

Por sua vez, o Dr. Jekyll (Shazad Latif) introduzido tardiamente não foi trabalhado como deveria. Serviu apenas como gancho (forçado) para que Victor tentasse reverter o caráter violento de Lily, por meio do soro que controla Mr. Hyde. Mas levando em consideração a extrema popularidade do personagem - que inspirou o Incrível Hulk - a falha não é grave.
Penny Dreadful apresenta o horror de forma orgânica, que não causa exatamente medo, mas incômodo. E com muito charme. Ambientada na Londres da década de 1890, com paleta fotográfica característica, a trama passeia ainda pelo interior da Inglaterra, chegando à África, o Ártico e o Oeste americano. Os flashes são rápidos, no início da terceira temporada, com a ação se concentrando nos conflitos de Ethan com a lei e sua relação com o pai, mas mesmo assim a incursão mundial é válida.

Eis que chegamos ao polêmico encerramento da série, anunciado quanto o episódio 3x09 foi ao ar. Particularmente, achei eficiente e o desfecho inevitável. Assim como o fim da saga, totalizando 27 episódios. Ou alguém acha que existe Penny Dreadful sem Vanessa Ives?
Se você é fã dos clássicos de terror e gosta de uma série concisa e bem produzida, corra para a Netflix (temporadas 1 e 2 disponíveis) ou para a HBO, que exibe a 3a temporada em parceria com a Showtime.

4 comentários:

  1. Eu gostei muito da série! Realmente me surpreendeu em muitos aspectos, e como você mesmo disse, Penny Dreadful é Vanessa Ives e vice-versa. Ela é a essência da série, e a série não poderia continuar sem ela. Terminei o último episódio ontem, e embora tenho gostado do final de Vanessa, acho que esse último episódio não correspondeu as expectativas.

    Parece que foi tudo muito rápido e a Vanessa nem teve muito tempo de tela. Acho que o fato de existirem muitos núcleos separados nessa temporada pode ter prejudicado o desenvolvimento da mesma. Enfim, mesmo assim a série é uma das melhores do gênero e a produção é impecável.

    Estou aguardando uma crítica de Aquarius, hein :)

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    1. Concordo, Ian, a última temporada passa mesmo essa sensação de pressa em alguns momentos. O bom é que não afetou o conjunto da obra, é uma série para ser vista e revista! hehe

      Assisti Aquarius agora no feriado, a crítica virá logo, logo... Valeu! =D

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  2. Adorei esse seriado. Eu gosto muito de filmes de época ou baseados em fatos reais. Neste me agradou muito o personagem vivido pelo Rory Kinnear, do Frankenstein. Acho-o um excelente ator, versátil que sempre sabe se reinventar e fazer diversos papéis. Eu, pessoalmente, adoro pesquisar e ver filmes europeus e documentarios. São sempre bem produzidos e dirigidos, nos atraindo sempre. Tem outro ritmo e são bem conduzidos além de ter uma linguagem própria. Eu adoro e indico.

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