Filmes sobre lutas épicas, com histórias de superação de lutadores, já podem ser considerados um gênero dentro da sétima arte. Como todo gênero que se preze, tem seus clássicos, como o primeiro Rocky e Touro Indomável. Felizmente, as boas produções não são exclusivas de Hollywood: com roteiro competente e direção na medida, Mais Forte que o Mundo - A História de José Aldo consolida Afonso Poyart como um dos mais promissores cineastas brasileiros da nova geração.
Depois do elogiado 2 Coelhos, que o levou a ser convidado a comandar Solace - quando dirigiu ninguém menos que Anthony Hopkins e Colin Farrell - Poyart retomou o projeto de Mais Forte que o Mundo, iniciado em 2012, em que comanda a produção e assina o roteiro, ao lado de Marcelo Rubens Paiva.
O protagonista, porém, precisou ser trocado, com José Loreto substituindo Malvino Salvador. Dada a entrega de Loreto ao personagem e seu aspecto físico, que convence na juventude e fase adulta de José Aldo Junior, a mudança foi bem-vinda.
O elenco, aliás, é um dos maiores trunfos do longa: as escolhas de Jackson Antunes, Claudia Ohana e Cleo Pires como o pai, a mãe e a esposa de Aldo, respectivamente, não poderia ser mais acertada. Considerando que não há qualquer semelhança física entre o elenco e a família de Aldo - conforme as fotos de arquivo deixam claro, nos créditos - fica evidente a preocupação de Poyart em focar as atuações dramáticas.
Antunes sempre foi um ator acima da média, mas tem se revelado ainda mais talentoso em papeis complexos. Seu José, o pai de Aldo, representa não só um dos esteios de sua formação moral, como traz o elemento do alcoolismo e da violência doméstica. Ou seja, vai além do mero estereótipo do "pai violento vilanizado". Ohana, por sua vez, encarna a força de Rocilene, a matriarca que não hesita em dar novo rumo à sua vida e sair de casa, com as filhas adolescentes, em determinado momento da trama.
Saindo de Manaus, onde se passa a infância e juventude de Junior, somos introduzidos no universo das academias de MMA do Rio de Janeiro, preparatórias para o futuro de sucesso que aguardava o lutador. Enquanto Milhem Cortaz encarna o treinador Dedé Pederneiras (na medida), ninguém menos que Rafinha Bastos surge como o amigo Loro, que serve como alívio cômico necessário em meio à seriedade tanto da vida pregressa, quanto do que estava por vir na vida de José Aldo.
Por sua vez, Cleo Pires dá vida à lutadora Vivi, que quebra mais um estereótipo, o da "mocinha a ser conquistada". Engana-se quem pensa que, engatado o namoro, o casal não teria problemas: a relação é apresentada sem filtros, com as marcas deixadas por Seu José teimando em dar as caras na vida de Aldo. Por outro lado, fica confusa e exagerada a concepção do "inimigo interior" que persegue Junior durante as lutas, representado por Rômulo Neto. A referência a Clube da Luta é inevitável, mas poderia ter sido melhor trabalhada.
Afonso Poyart, porém, nos entrega uma direção que supera os exageros dramáticos, com marcas características nas cenas de ação bem encenadas (como a perseguição de carro em Manaus), câmera lenta nos lugares certos (inclusive numa sequência de sexo), e uma passagem em animação - num estilo familiar ao espectador de 2 Coelhos.
Paixão nacional dos últimos anos, o UFC originou o projeto de Mais Forte que o Mundo, a princípio, sem a definição de qual história de lutador seria contada. Chegou-se a José Alto pela vida de superação do amazonense, e pelo fato do campeão mundial ter passado uma década com o cinturão.
Mesmo para quem não é fã do esporte, como eu, é preciso reconhecer a qualidade do filme, que abre perspectivas cinematográficas promissoras tanto para o MMA, dentro do gênero de luta, quanto para a filmografia de Poyart.
Mais Forte que o Mundo - A História de José Aldo (2016)
Direção e Produção: Afonso Poyart
Roteiro: Afonso Poyart e Marcelo Rubens Paiva
Elenco: José Loreto, Cleo Pires, Jackson Antunes, Claudia Ohana, Milhem Cortaz, Romulo Neto e Rafinha Bastos
Nota: 3,5/5
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