De forma simplista, podemos dividir o gênero Terror entre filmes "sutis", que assustam pelos conceitos e ambientes apresentados em cena (que não necessariamente dão sustos no espectador), e filmes "explícitos", o famoso terror de "pular da cadeira", cujo misto de sensações despertadas talvez seja a razão da fixação de tantos jovens pelo gênero.
Depois do brilhante A Bruxa, que se enquadra no primeiro tipo, eis que chega à telona Invocação do Mal 2, um belo representante do segundo tipo que, entretanto, não deixa de evocar elementos do terror sutil e psicológico. Já podemos dizer que 2016 será um ano marcante para o gênero...
Escrito e dirigido por James Wan - responsável não só pelo primeiro longa do que já se tornou uma franquia de sucesso, ao lado do mediano Annabelle, mas também pelos elogiados Sobrenatural e o primeiro Jogos Mortais - Invocação do Mal 2 utiliza um eficiente artifício de roteiro: dá cabo, nos minutos iniciais, do famoso caso de Amityville, responsável por tornar famoso o casal norte-americano Ed e Lorraine Warren (Patrick Wilson e Vera Farmiga, repetindo a ótima química do filme inicial).
Amityville dispensa apresentações: já gerou um livro, dois filmes e dezenas de referências na cultura pop. Seria um desperdício tomar tempo do espectador com isso. Numa sequência elegante, em que Lorraine "toma o lugar" do assassino em sua visão, somos apresentados ainda ao antagonista do longa: um demônio em forma de freira (Bonnie Aarons, em um já antológico personagem de nossos piores pesadelos).
Tal demônio aparece ainda em sonho para Ed, que pinta um quadro da figura sinistra sem saber do que se trata. A exposição na mídia gerada pelo caso leva, então, o casal Warren a repensar sua carreira como investigadores do sobrenatural - até pelo medo de Lorraine em ficar viúva, já que a visão com a freira demoníaca sempre termina com a morte de Ed.
Eis que somos introduzidos à família Hodgson, da pacata cidade britânica de Enfield. Após ser abandonada pelo marido, Peggy (Frances O'Connor) se vê às voltas com a adaptação da família à nova rotina sem o pai. Os quatro filhos (duas meninas e dois meninos) reagem cada um a sua maneira, destacando-se a pré-adolescente Janet (Sterling Jerins), primeiramente pela rebeldia na escola (é pega fumando), depois por ser a primeira a ter contato com os eventos sem explicação que passam a se apossar da casa em Enfield.
Através de planos sequência, que expõem ângulos variados da residência dos Hodgson, tem início a clássica trama de fantasma/espírito que atormenta uma família, começando pelos filhos caçulas até ser presenciado pela irmã mais velha e pela mãe. Um antigo morador da casa, já falecido, naturalmente tem relação com os estranhos fenômenos.
Ao buscar ajuda - primeiro com vizinhos e a polícia, até chegar à televisão, o que desperta o interesse dos Warren pelo caso - a família se vê envolvida no que parece ser um caso sobrenatural bem mais grave do que mera assombração. Apesar do perigo eminente, precisam enfrentar o ceticismo representando por uma especialista psiquiátrica e pelo próprio casal Warren, enviado à Inglaterra como representantes da Igreja Católica, para validar ou não a veracidade do caso.
Com um primeiro ato eficaz, Invocação do Mal 2 peca por estender a parte intermediária além do necessário, desembocando num desfecho apressado - tendo 134 minutos de duração, falta de tempo não é desculpa. Os efeitos visuais e maquiagem bem empregados, além das atuações na medida são os destaques do longa, em especial a sempre talentosa Vera Farmiga (a Norma Bates de Bates Motel) e a revelação Sterling Jerins.
A franquia deve continuar, já que as bilheterias prometem ser vultosas e não faltam casos reais do casal Warren para inspirar o talentoso James Wan. Em tempos de produções descartáveis e mal feitas do gênero que tem como baluartes O Exorcista, O Bebê de Rosemary e Poltergeist, os filmes Invocação do Mal já têm garantido na antologia cinematográfica seu lugar ao sol - ou melhor, nas sombras...
Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2, 2016)
Direção e Roteiro: James Wan
Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Frances O'Connor, Simon McBurney, Sterling Jerins, Bonnie Aarons e Maria Doyle Kennedy
Nota: 4/5
Nenhum comentário:
Postar um comentário