sábado, 30 de abril de 2016

Cinema: Capitão América - Guerra Civil

Não é tarefa fácil roteirizar e dirigir um grande número de superheróis em cena. Mais difícil ainda é introduzir novos personagens ao mesmo tempo em que se cria um conflito entre os veteranos, dando sequência a uma série de tramas de um universo que vem sido construído ao longo da última década no cinema e, mais recentemente, na TV aberta e na Netflix. Quando essa tarefa dá certo, temos um filme do porte de Capitão América - Guerra Civil, que dá uma aula aos seus pares de gênero e desde já pode ser cravado como o filme de heróis do ano.

ALERTA DE SPOILERS


A comparação com o blockbuster recém lançado pela "concorrência" é inevitável: Batman Vs Superman - A Origem da Justiça. Inclusive há elementos semelhantes entre os longas, como a forma de agir do vilão -alguém que se utiliza de uma tragédia do passado envolvendo os heróis para criar e estimular um conflito entre eles - e o "elemento maternal" como um dos motivadores da briga. Mas há que se admitir que Guerra Civil executa essa proposta bem melhor do que A Origem da Justiça. E vai além...
O principal motivo do sucesso é não se levar tão a sério como o faz a DC: filmes de heróis devem equilibrar seriedade, humor e senso de ridículo, já que algumas roupas e poderes advém de um "mundo mágico" tanto quanto o universo de Harry Potter. E humor deve surgir como alívio cômico, não como algo forçado, uma das falhas de Os Vingadores - Era de Ultron.

A trama de Guerra Civil começa logo após os eventos de Era de Ultron, cujo conflito praticamente destruiu a fictícia Sokovia, no leste europeu, e de Capitão América - Soldado Invernal, o longa que além de introduzir o alter-ego de Bucky Barnes (Sebastian Stan) trouxe o fantasma da Hidra de volta para acabar com a então toda poderosa SHIELD (para mais detalhes, assista a série da ABC).


As autoridades mundiais estão preocupadas com a atuação dos heróis e querem, a partir do Tratado de Sokovia (assinado por 117 países), limitar os atos dessas "super pessoas", para evitar novas tragédias de proporções globais. Isso se torna urgente após dois novos incidentes: a sequência que abre o filme em Lagos (Nigéria), com parte dos Vingadores enfrentando o vilão Ossos Cruzados (Frank Grillo), e o ataque supostamente orquestrado pelo Soldado Invernal em Viena (Áustria), na reunião da ONU sobre o tratado.
Esse contexto nos apresenta ainda um importante novo personagem: o príncipe T'Challa (Chadwick Boseman) de Wakanda, nação fictícia africana cujo rei foi morto no atentado. Seu alter ego, como bem sabem os fãs das HQs, é o Pantera Negra - em busca de vingança pelo pai.


Tudo isso embasa o primeiro conflito entre Tony Stark/Homem de Ferro (Robert Downey Jr) e Steve Rogers/Capitão América (Chris Evans): enquanto o primeiro acha melhor aderir ao tratado, com a consciência pesada pelas mortes geradas involuntariamente pelos Vingadores, o herói da Segunda Guerra não confia na decisão dos governos mundiais sobre eles. Ambos estão certos, no que reside um dos trunfos do filme: não há maniqueísmo.
Os times acabam se formando pelos conflitos de cada personagem, todos incrivelmente bem delineados em suas intenções, e com tempo suficiente em cena: o militar Patriota de Ferro (Don Cheadle), o pragmático Visão (Paul Bettany), a conturbada Wanda Maximoff (Elisabeth Olsen), a espiã Viúva Negra (Scarlett Johansson), o prático Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), o leal Falcão (Anthony Mackie) e o recém-chegado Homem Formiga (Paul Rudd).


Como herói pouco é bobagem, finalmente somos introduzidos ao caçula: ninguém menos que Peter Parker/Homem Aranha (Tom Holland). Numa sequência rápida, já que é desnecessário contar as origens do herói depois de 5 filmes recentes, Tony Stark faz uma inusitada visita a Peter e sua Tia May (Marisa Tomei) e convoca o jovem para lutar ao seu lado, numa espécie de "entrevista de emprego". A participação é mais do que bem-vinda, e o cabeça de teia não faz feio: luta de igual para igual com o Capitão, o Soldado e o Falcão, além de protagonizar umas das melhores cenas contra a versão gigante do Homem Formiga.
As cenas de ação estão da medida, com destaque para a grande batalha no Aeroporto de Berlim e a luta final entre o Capitão e o Homem de Ferro na Sibéria, com o Soldado a tiracolo. A prisão secreta no meio do oceano, para onde são levados os aliados de Steve Rogers, é outra grata surpresa.


Mas Guerra Civil tem suas falhas: o vilão Zemo, vivido pelo talentoso alemão Daniel Brühl, não é exatamente o barão nazista que se esperava das HQs. E o oficial interpretado por Martin Freeman, membro do governo americano, não diz a que veio, sendo uma adição desnecessária já que o general Ross (William Hurt) cumpre a mesma função na trama, retornando após O Incrível Hulk (2008).
Por outro lado, as cenas envolvendo Sharon Carter (Emily VanCamp) e Steve Rogers funcionam bem como "alívio romântico", assim como o tempo que o filme encontra para homenagear a icônica Peggy Carter (Hayley Atwell), protagonista da série homônima. Da mesma forma, é apropriada a forma como Stark lida com a jovem Tia May: além de serem da mesma idade, não deixa de ser uma alfinetada na concepção que se tem das mulheres na faixa dos 40/50 anos em filmes de heróis.


Capitão América - Guerra Civil, além de ser o melhor filme de super heróis do ano (marca que não deve ser batida por X-Men Apocalipe ou Esquadrão Suicida), se consagra no "top 3" da Marvel, ao lado do primeiro Vingadores e do competente Soldado Invernal. Palmas aos Irmãos Russo, e que venha Guerra Infinita!

Capitão América - Guerra Civil (Civil War, 2016)
Direção: Anthony e Joe Russo
Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely
Elenco: Chris Evans, Robert Downey Jr, Sebastian Stan, Scarlett Johansson e grande elenco.
Nota: 4/5

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