Escrever sobre política é um desafio cada dia mais espinhoso. Só os fortes sobrevivem - e olhe lá. O tom da campanha de 2014 ainda está no ar, criou inimizades, afastou pessoas, opôs visões dentro de casa e dividiu o país - como o resultado das eleições presidenciais deixou evidente.
"Não levante o dedo para mim, candidato". Ops, essa frase foi da Luciana Genro! haha |
Em todo caso, a democracia continua e merece ser respeitada em sua plenitude. Digo isso porque tem gente que parece que ainda não entendeu as regras do jogo, e quer a todo custo levar vantagem com a desgraça alheia. Sugerir a convocação de novas eleições menos de um ano depois? Só pode ser brincadeira de mau gosto. Ou oportunismo da pior espécie...
Há quem diga que o governo aparelhou a máquina pública e tem a imprensa comprada. Qual imprensa, cara pálida? E que máquina aparelhada é essa que só investiga, prende e julga petistas e aliados enquanto engaveta processos (às vezes muito mais flagrantes e evidentes, como no caso do governo paranaense) de tucanos? De certo o PT fez um péssimo trabalho com essa mídia "chapa branca" e o Estado aparelhado (alerta de ironia)...
Defesa da democracia
Não vou entrar no mérito da picuinha e querela que dura mais de 20 anos entre PT e PSDB. Pessoalmente, não sou adepto de nenhum dos dois partidos. Quem me acompanhou pelas redes sociais no ano passado sabe que votei e fiz campanha para Luciana Genro do PSOL, por concordar com suas visões progressistas nas pautas sociais que precisam ser debatidas e implementadas no país (o lado econômico e político do PSOL, e das legendas de esquerda, de modo geral, rendem um texto a parte e podem ser abordados em outra ocasião).
Apesar de PT e PSDB, o que precisa prevalecer SEMPRE (com maiúscula mesmo) é a defesa da democracia. Esse é o ponto de convergência de comunistas, socialistas, liberais, conservadores e todas as correntes que se prezem num Estado Democrático de Direito. Quem defende a volta de uma ditadura nos moldes das que governaram Brasil e países latinos entre os anos de 1960 e 1980 merece voltar para as salas de aula para relembrar os horrores do período.
Por mais crítico que esteja o cenário político e econômico, a democracia te dá o direito de fazer greve, bater panela, sair às ruas pedindo impeachment (mesmo sem saber ao certo o que viria depois) e até mesmo escrever uma postagem como essa sem censura. Quer coisa mais linda que isso?
Diferenças, sim. Discussões e debates, sim. Mas ignorância de haters e viúvas da ditadura ninguém merece!
Impeachment... E depois?
Muitos dos que batem panela durante os pronunciamentos do governo (que é um direito legítimo e merece ser respeitado) pouco sabem ou desconhecem em sua totalidade os destinos a que o Brasil chegaria num processo de impedimento da presidente da República nas atuais circunstâncias.
No plano político (e por que não dizer moral?), o que mudaria com o senhor Michel Temer empossado no Palácio do Planalto? O PMDB está tão ou mais envolvido nas investigações da Lava Jato do que o PT. "Ah, mas o Temer não foi acusado de nada". E a Dilma foi, por acaso? Até o FHC concorda que Dilma é uma "pessoa honrada" e não está envolvida diretamente em corrupção.
E num cenário mais extremo, se Dilma e Temer fossem impedidos de governar após comprovadas e julgadas as supostas irregularidades na campanha de 2014, quem assumiria? Nosso "querido", "democrático" e "gente boa" presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Esse sim, que está diretamente envolvido na Lava Jato, o que deve ser provado assim que o julgamento chegar à estância cabível - o Supremo, já que se trata de político com foro privilegiado.
Dito isso, fica a reflexão: se está ruim com Dilma, a tendência é ficar muito pior sem ela. Pense duas vezes antes de ir para a rua pedindo por um impeachment milagroso. Acreditem, se essa fosse a solução eu seria o primeiro da fila cantando "Que País É Esse?" =)
Saudação à mandioca
"André, você diz que não é do PT, mas até agora só defendeu a Dilma!?".
No que se refere (para usar a expressão favorita da presidente) ao cargo de mandatária da nação, como representante institucional da legalidade democrática, defendo sim a presidente. No plano do caráter pessoal da cidadã Dilma Rousseff, até que se prove o contrário, defendo sim a presidente.
Agora no plano da comunicação do governo, não dá para apoiar o que temos visto. Em plena crise, com o "kissuco fervendo", a presidente vai lá e saúda a mandioca! Depois solta aquela "pérola", para dizer o mínimo, sobre as metas e o dobro das metas. É muita falta de noção da repercussão negativa que isso gera - ainda mais na era das redes sociais. Pelamor!
Dilma Bolada: o fim de um case de sucesso |
E o que dizer da "Dilma Bolada", a página de sátira à presidente que se converteu num espaço - esse sim - chapa branca, ligado ao governo e sem graça nenhuma? Triste fim de um case que marcou época entre 2012 e 2013.
Sobre o "aparelhamento" do Estado e imprensa, volto a dizer: ou ele foi muito mal feito, ou não existe. Não dá para acreditar nesse papo de que o PT controla tudo. Se controlasse, a crise de imagem do partido e da própria presidente não chegaria ao ponto em que está: 71% de desaprovação do governo, segundo pesquisa recente, é o dado cabal desse cenário.
Atualização: no dia 6 de agosto o PT foi ao ar em cadeia nacional de rádio e TV com sua propaganda partidária, em que Dilma e Lula falam sobre a crise. Apesar do tom ufanista e da ironia com os "panelaços", a peça publicitária não foi de todo mal elaborada.
Onde vamos parar?
Quem tiver a resposta do milhão, que se manifeste! haha
Não arrisco um palpite, mas uma coisa é certa: agravamento de crises econômicas aliado à ignorância de correntes políticas reacionárias e ao descontentamento das basas aliadas e da militância popular não costumam desaguar num cenário animador. Golpes e intervenções se originam disso.
É preciso muita cautela daqui para frente, e não perder de vista a maior conquista brasileira das últimas décadas: a democracia em sua plenitude. Apesar de falha, ainda é o melhor sistema político criado pelo homem.
"Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo" - Frase atribuída ao pensador francês Voltaire
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