sábado, 9 de janeiro de 2016

Cinema: Spotlight - Segredos Revelados

Spotlight - Segredos Revelados é um filme inquietante, um libelo cinematográfico ao jornalismo investigativo. Ambientada entre 2001 e 2002 e baseada em fatos, a trama dirigida e escrita por Tom McCarthy (O Visitante) apresenta o trabalho da divisão Spotlight, que trabalha com pautas investigativas no jornal The Boston Globe, especificamente na longa e espinhosa apuração que levou à descoberta de uma rede de casos de abuso sexual de menores abafados pela Igreja Católica.

A partir de um caso de pedofilia envolvendo um padre de Boston, a equipe chefiada pelo editor Walter Robby (Michael Keaton) acaba descobrindo um padrão na cidade ao longo dos anos, aparentemente com o aval do influente cardeal Bernard Law (Len Cariou).

A princípio - e já chamando a atenção do chefe de redação Ben Bradlee Jr. (John Slattery) - seriam 13 padres. O número sobe para 87, até o indiciamento final de 249 sacerdotes envolvidos em casos de abuso de menores, o que levou ao afastamento do cardeal de Boston. Para onde? Itália, numa diocese bem mais prestigiada...

Spotlight não só acerta em mirar a Igreja como alvo - com razão, já que a leniência da cúria com os padres pedófilos permitiu que casos isolados se tornassem um "padrão" de impunidade -, como não exime o próprio jornal da responsabilidade de não ter iniciado, anos antes, a investigação: indícios a respeito já haviam surgido desde 1993.

O poder e influência católica sobre a cidade são revelados em sequência elegantes (igrejas aparecem ao fundo de parques e ruas, enquanto vítimas relatam abusos que sofreram), assim como música sacra é ouvida em certos momentos. Quando um coral de crianças cantando música natalina nos deixa desconfortável, é porque o filme cumpriu seu papel de desconstrução de uma ideia pré-concebida (da sacralidade e infalibilidade da religião). Como define uma das vítimas, como se opor à vontade de um "representante" de Deus?

Por outro lado, num breve diálogo por telefone do repórter Michael Rezendes (Mark Ruffalo) com um ex-padre que escreveu sobre casos de abuso e mantinha-se católico não-praticante, nos é sugerido um importante conceito de fé: não são as instituições humanas e falíveis em quem devemos depositar nossa devoção, e sim no conceito de Deus/Força Maior que rege o universo e está presente em cada ser vivo. Palpas ao roteiro de McCarthy por expor essa ideia que é, ao mesmo tempo, simples e complexa de se compreender.
O polêmico Cardeal Bernard Law vive atualmente na Itália
Tanto Robby (Keaton) como os repórteres Sacha Pfeiffer (Rachel McAdams) e Matt Carroll (Brian d’Arcy James), e o diretor de jornalismo Marty Baron (Liev Schreiber) estão construídos na medida, ao contrário do único personagem exagerado em suas caras-e-bocas unidimensionais: Rezendes (Ruffalo), justamente o principal repórter do caso. Outro cuidado do roteiro foi não estigmatizar a fé de cada jornalista: todos tiveram criação católica e, por motivos variados, se afastaram da Igreja. A exceção é o judeu Baron, cujo suporte editorial ao caso foi fundamental.

Destaque ainda para o sempre eficiente Stanley Tucci como o advogado Garabedian, peça imprescindível na investigação. Dá para dizer que exerce função similar ao Garganta Profunda, sem tanto mistério, numa comparação inevitável como escândalo Watergate. Detalhe: Ben Bradlee (pai) foi justamente o editor de Woodward e Bernstein no Washington Post. Que família! haha
Spotlight não só tem cara de Oscar, como deve ser indicado em categorias de destaque. Certamente, um dos filmes mais eficientes do ano em sua proposta, clássico sobre o Jornalismo ao lado de Todos os Homens do Presidente e A Montanha dos Sete Abutres, entre outros.


Spotlight - Segredos Revelados (Spotlight, 2015)
Direção: Tom McCarthy
Roteiro/Produção: Tom MacCarthy e Josh Singer
Elenco: Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams, John Slattery, Brian d’Arcy JamesLiev Schreiber e Stanley Tucci.
Nota: 5/5

Um comentário:

  1. Eu achei um muito bom filme. Pessoalmente desfrutei muito pelo bom enredo e narrativa. Realmente vale a pena todo o trabalho que o elenco fez, cada detalhe faz que seja um grande filme. É um dos filmes de drama mais interessantes de Michael Keaton além do filme sobre o Mc Donalds que ele estrenou no ano passado . Vale muito à pena, é um dos melhores do seu gênero. Além, tem pontos extras por ser uma historia criativa. Se vocês são amantes do trabalho desse ator este é um filme que não devem deixar de ver.

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