domingo, 19 de junho de 2016

Cinema: Mais Forte que o Mundo

Filmes sobre lutas épicas, com histórias de superação de lutadores, já podem ser considerados um gênero dentro da sétima arte. Como todo gênero que se preze, tem seus clássicos, como o primeiro Rocky e Touro Indomável. Felizmente, as boas produções não são exclusivas de Hollywood: com roteiro competente e direção na medida, Mais Forte que o Mundo - A História de José Aldo consolida Afonso Poyart como um dos mais promissores cineastas brasileiros da nova geração.

Depois do elogiado 2 Coelhos, que o levou a ser convidado a comandar Solace - quando dirigiu ninguém menos que Anthony Hopkins e Colin Farrell - Poyart retomou o projeto de Mais Forte que o Mundo, iniciado em 2012, em que comanda a produção e assina o roteiro, ao lado de Marcelo Rubens Paiva. 

O protagonista, porém, precisou ser trocado, com José Loreto substituindo Malvino Salvador. Dada a entrega de Loreto ao personagem e seu aspecto físico, que convence na juventude e fase adulta de José Aldo Junior, a mudança foi bem-vinda.
O elenco, aliás, é um dos maiores trunfos do longa: as escolhas de Jackson Antunes, Claudia Ohana e Cleo Pires como o pai, a mãe e a esposa de Aldo, respectivamente, não poderia ser mais acertada. Considerando que não há qualquer semelhança física entre o elenco e a família de Aldo - conforme as fotos de arquivo deixam claro, nos créditos - fica evidente a preocupação de Poyart em focar as atuações dramáticas.

Antunes sempre foi um ator acima da média, mas tem se revelado ainda mais talentoso em papeis complexos. Seu José, o pai de Aldo, representa não só um dos esteios de sua formação moral, como traz o elemento do alcoolismo e da violência doméstica. Ou seja, vai além do mero estereótipo do "pai violento vilanizado". Ohana, por sua vez, encarna a força de Rocilene, a matriarca que não hesita em dar novo rumo à sua vida e sair de casa, com as filhas adolescentes, em determinado momento da trama.
Saindo de Manaus, onde se passa a infância e juventude de Junior, somos introduzidos no universo das academias de MMA do Rio de Janeiro, preparatórias para o futuro de sucesso que aguardava o lutador. Enquanto Milhem Cortaz encarna o treinador Dedé Pederneiras (na medida), ninguém menos que Rafinha Bastos surge como o amigo Loro, que serve como alívio cômico necessário em meio à seriedade tanto da vida pregressa, quanto do que estava por vir na vida de José Aldo.

Por sua vez, Cleo Pires dá vida à lutadora Vivi, que quebra mais um estereótipo, o da "mocinha a ser conquistada". Engana-se quem pensa que, engatado o namoro, o casal não teria problemas: a relação é apresentada sem filtros, com as marcas deixadas por Seu José teimando em dar as caras na vida de Aldo. Por outro lado, fica confusa e exagerada a concepção do "inimigo interior" que persegue Junior durante as lutas, representado por Rômulo Neto. A referência a Clube da Luta é inevitável, mas poderia ter sido melhor trabalhada.
Afonso Poyart, porém, nos entrega uma direção que supera os exageros dramáticos, com marcas características nas cenas de ação bem encenadas (como a perseguição de carro em Manaus), câmera lenta nos lugares certos (inclusive numa sequência de sexo), e uma passagem em animação - num estilo familiar ao espectador de 2 Coelhos.

Paixão nacional dos últimos anos, o UFC originou o projeto de Mais Forte que o Mundo, a princípio, sem a definição de qual história de lutador seria contada. Chegou-se a José Alto pela vida de superação do amazonense, e pelo fato do campeão mundial ter passado uma década com o cinturão.
Mesmo para quem não é fã do esporte, como eu, é preciso reconhecer a qualidade do filme, que abre perspectivas cinematográficas promissoras tanto para o MMA, dentro do gênero de luta, quanto para a filmografia de Poyart.

Mais Forte que o Mundo - A História de José Aldo (2016)
Direção e Produção: Afonso Poyart
Roteiro: Afonso Poyart e Marcelo Rubens Paiva
Elenco: José Loreto, Cleo Pires, Jackson Antunes, Claudia Ohana, Milhem Cortaz, Romulo Neto e Rafinha Bastos
Nota: 3,5/5

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