terça-feira, 10 de maio de 2016

Livro do mês: Bussunda, A Vida do Casseta, de Guilherme Fiuza

Bussunda, A Vida do Casseta, escrito por Guilherme Fiuza e lançado em 2010 - quatro anos após a repentina morte do humorista em plena Copa do Mundo da Alemanha - é mais do que uma biografia pessoal. É a história das quase duas décadas (1980 a 2000) em que o grupo Casseta & Planeta ganhou o país e revolucionou o humor televisivo feito até então.

Muitos podem não saber (como eu desconhecia), mas o sucesso dos cassetas começou bem antes do programa homônimo, que ficou no ar entre 1992 e 2010 nas noites de terça-feira da TV Globo. Os "sete garotos de Liverpool" foram os responsáveis pelo roteiro da TV Pirata, ícone do humor dos anos 80, com personagens como Tonhão (Claudia Raia) e Barbosa (Ney Latorraca).

Isso sem falar das publicações que originaram o grupo: a Casseta Popular (fundada em 1978 por Beto Silva, Marcelo Madureira e Hélio de la Peña) e o Planeta Diário (de Reinaldo e Hubert, criado em 84). A dupla Cláudio Manoel e Cláudio Besserman Viana, o Bussunda, se juntou à Casseta quando a fanzine virou tabloide.

Filho do cirurgião Luis Guilherme Viana e da psiquiatra Helena Besserman Viana, Bussunda desde cedo foi a "ovelha negra" da família de judeus comunistas. Ao lado dos irmãos Marcos e Sergio, Claudio era o desajustado, que matava aula para ficar de bobeira na praia, não gostava de tomar banho na colônia Kinderland, deixava o cabelo crescer e evitou tratamentos ortodônticos - o que se tornou uma de suas marcas no futuro.
A biografia escrita por Fiuza (com 407 páginas) nos apresenta sua amizade com o baiano Claudio Manoel, colega de faculdade; sua relação com Angélica, companheira de vida e mãe da única filha, Júlia; a idolatria pelo time do coração, o Flamengo, e o ídolo Zico (um deus para Bussunda, que perdeu as palavras ao encontrá-lo pela primeira vez, no sambódromo, quando o sucesso começava a bater em sua porta), entre tantas passagens marcantes da vida do casseta favorito do público.

Os meandros da relação dos cassetas com a Rede Globo, seus roteiristas e diretores - Boni, José Lavigne, Cláudio Paiva e tantos outros - também são abordados em detalhes, assim como as reações do todo-poderoso Roberto Marinho com os primeiros esquetes e programas do grupo.
Bussunda com a filha Júlia
O maior mérito dos Cassetas foi inovar no humor, talvez o último grupo antes da onda do politicamente correto. Faziam piada de tudo e de todos, salvo raras exceções (a morte de Senna, por exemplo). A aproximação com o público, as "reportagens" repletas de fala-povo com duplo sentido, foram marcas do grupo aprimoradas posteriormente pela concorrência.

Outro fato curioso foi que, intérprete das paródias do ex-presidente Lula e de Ronaldo Fenômeno, Bussunda sofreu temporariamente das mesmas doenças de ambos: problema no joelho (Ronaldo) e bursite no ombro (Lula). Seu "Ronaldo Fofômeno", aliás, foi a primeira sátira sobre o peso do craque, ainda em 2006. Destaque ainda para outro personagem marcante do mundo futebolístico: Marrentinho Carioca, astro do Tabajara Futebol Clube, eternizado pelo bordão "Fala sério" - que levou Bussunda a ser escolhido dublador brasileiro dos dois primeiros filmes da série Shrek.
Bussunda, por sua vez, era o líder involuntário e ponto de consenso entre os "sete piratas". Os atritos eram comuns, principalmente na política. Membro do Partido Comunista na juventude, Cláudio Besserman Viana apoiou Lula em todas as eleições até 2002. E se desiludiu, inevitavelmente, com o escândalo do Mensalão que veio a público nos anos seguintes. Entre os cassetas, Madureira e Hubert - os "pais" do colunista Agamenon Mendes Pedreira - se destacavam como os mais à direita do grupo.

Não é exagero dizer que a morte prematura de Bussunda marcou o início do fim do programa Casseta & Planeta Urgente, que ainda ficou quatro anos no ar, mas foi cancelado devido à audiência baixa e as "piadas de tio" que perderam a graça frente ao frescor da inovação que programas como o Pânico na TV e o CQC tinham em 2010. 
Incrível como a TV leva tempo para se reinventar, já que a última palavra no humor só veio em 2014 com o Tá no Ar - A TV na TV - que inspirou o reboot do Zorra no ano passado (para não dizer uma cópia pouco disfarçada).

É uma pena que os seis cassetas sobreviventes tenham entrado no ostracismo. O único rosto com quem o público ainda tem contato na TV é Hélio de la Peña, no elenco da novela Totalmente Demais. Pesquisando para escrever esse post, descobri que a marca Casseta & Planeta ainda tem um site...

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