sábado, 23 de janeiro de 2016

Cinema: Reza a Lenda

Em tempos de sequências de comédias e comédias românticas tomando conta do panorama cinematográfico brasileiro, chega a espantar uma estreia como Reza a Lenda, que se propõe a ser um "Mad Max do sertão", um verdadeiro faroeste caboclo. Se no plano estético e visual a proposta é feliz, o mesmo não dá pra dizer do roteiro, assinado pelo estreante Homero Olivetto, que também dirige e é um dos produtores do longa.

Filmado em 2014 na região de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA), o filme traz em sua produção, fotografia e até trilha sonora aspectos que impressionam, e são pouco usuais no cinema brasileiro. As sequências de ação, como a perseguição na estrada que abre o longa, e a luta de facões/peixeiras nos domínios do bruxo Galego Lorde (Júlio Andrade), estão impecáveis.

Assim, é uma pena que o roteiro seja tão falho e confuso. Numa terra sem lei, marcada pela seca, morte e falta de oportunidades, um grupo de bandoleiros liderado por um profeta (Pai Nosso) nos moldes de Antonio Conselheiro busca uma imagem de santa que, se levada à uma determinada capela definida por uma profecia, trará chuva para o sertão. Achou bizarro? Poderia não ser, dependendo da condução da história, o que não ocorre.
Vale ressaltar as referências feitas por Olivetto aos clássicos do gênero - dentro e fora do Brasil - como Glauber Rocha e Sérgio Leone. George Miller e Quentin Tarantino também passaram pela mente do diretor, principalmente nas sequências na estrada.

Além do visual apurado, o elenco pouco contribui: Cauã Reymond, na pele do protagonista Ara, e Sophie Charlotte, como sua parceira Severina, são unidimensionais e previsíveis. A jovem Laura (Luisa Arraes, filha de Guel Arraes) encarna a figura da mocinha indefesa que precisa ser salva. E o coronel Tenório (Humberto Martins) é de uma vilania que chega a ser risível de tão exagerada. Aliás, quem achou uma boa ideia escalar Humberto Martins?

Entre os coadjuvantes, o destaque vai para Andrade - sempre bem-vindo desde sua bela atuação como Gonzaguinha em Gonzaga: De pai pra filho - e Jesuíta Barbosa, onipresente no cinema e nas séries globais desde sua participação em Praia do Futuro.
A impressão que fica é que Reza a Lenda é uma bela produção, que merece ser vista no cinema, mas com conteúdo que poderia ter sido melhor trabalhado. Em tempos de uma zona de conforto cômica quase unânime, que atrai milhões às telonas, não deixa de ser uma experiência válida.

Reza a Lenda (2016)
Direção e roteiro: Homero Olivetto
Elenco: Cauã Reymond, Sophie Charlotte, Luisa Arraes, Humberto Martins e Jesuíta Barbosa
Nota: 3/5

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