segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Do fundo da gaveta: Ilustres presidentes desconhecidos

Texto escrito originalmente em novembro de 2010 para a disciplina de Redação Jornalística I do curso de Comunicação Social - Jornalismo da UFPR, do professor Toni Scharlau Vieira. O tema sempre me atraiu nas aulas de história ao ver a linha do tempo dos presidentes brasileiros. Se você também tem curiosidade para saber quem foram mandatários como José Linhares e Ranieri Mazzili, confira...



Ilustres Presidentes Desconhecidos

Conheça um pouco da história dos mandatários “anônimos” de nossa História
Ao lado de Getúlio, JK, Jango e outros, nota-se o pouco brilho dos “ilustres desconhecidos”
Desde a Proclamação da República, com o Marechal Deodoro da Fonseca, até o atual governo Dilma*, 35 homens e apenas uma mulher figuraram oficialmente como presidentes da nação brasileira. Alguns deles, porém, foram empossados presidentes por curtos períodos de tempo. Fosse na renúncia do titular do cargo, em tentativas de golpes de Estado, ou em contra-golpes, acabaram por figurar no “anonimato” da história, mesmo tendo ocupado a presidência do Brasil. 
Talvez o caso que melhor exemplifique este “anonimato” é o de José Linhares (1886-1957). Primeiro cearense a governar o Brasil, exerceu a presidência da República por convocação das Forças Armadas, como presidente do Supremo Tribunal Federal, após a queda de Getúlio Vargas, em 1945. Governou pouco mais de três meses , entre 30 de outubro de 1945 e 31 de janeiro de 1946.


“Confesso que nunca tinha ouvido falar do Linhares. Lembro que, no Ensino Médio, os professores falavam da queda de Vargas, após o fim do Estado Novo, e em seguida da posse de Eurico Dutra. Não fazia ideia de que existiu um presidente entre eles”, conta Guilherme Magalhães, aluno de Jornalismo da UFPR e recente vestibulando**. 


Apesar de oculto pelas brumas da história, o governo Linhares foi marcado pela garantia da realização das eleições, as mais livres até então, em dezembro de 1945. Para isso, nomeou vários parentes para cargos públicos, o que o tornou alvo de piadas populares, como Marcelo Duarte afirma em seu O Guia dos Curiosos:  "Os Linhares são milhares!". Sua maior realização foi a criação do Fundo Rodoviário Nacional, que existiu até 1998, e financiava os estados na construção de rodovias.
Outros dois “ilustres desconhecidos” são o mineiro Carlos Luz (1894-1961) e o catarinense Nereu Ramos (1888-1958). Ambos foram presidentes no turbulento período após o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, e a posse de Juscelino Kubitscheck, em 1956.


Carlos Luz era o presidente da Câmara dos Deputados quando do afastamento de Café Filho, vice-presidente em exercício após a morte de Vargas. Assumiu o cargo máximo da nação governando apenas quatro dias – o mais curto período de um presidente – pois foi afastado pelo movimento militar “11 de Novembro”, liderado pelo general Henrique Lott, ministro da Guerra. 


Declarado o impeachment de Carlos Luz no Congresso Nacional (sob acusação de conspiração para não entregar o poder ao presidente eleito, Juscelino Kubitschek), o cargo foi, então, entregue ao 1º Vice-Presidente do Senado, Nereu Ramos. Coube a ele, em sua breve passagem pela presidência (de 11 de novembro de 1955 a 31 de janeiro de 1956), sob estado de sítio, completar o quadriênio presidencial.
“Nereu Ramos foi fundamental para assegurar a continuidade democrática, ficando no poder até JK e Jango devidamente serem empossados, no começo de 1956. Ele foi o único homem, naquele momento, que respeitou a vontade popular, e não tentou nenhum tipo de golpe de Estado, como possivelmente o fariam Café Filho e Carlos Luz”, define o professor Ricardo Oliveira, cientista político da UFPR.

Pascoal Ranieri Mazzilli (1910-1975), filho de imigrantes italianos, era um deputado federal paulista, eleito presidente da Câmara Federal cinco vezes seguidas, entre 1959 e 1965. Neste período, exerceu a presidência da República em dois períodos: entre a renúncia de Jânio Quadros (entre 25 de agosto e 08 de setembro de 1961) e a posse de João Goulart no sistema parlamentarista; e entre 2 e 15 de abril de 1964, quando do Golpe Militar que depôs Jango. Dessa maneira, apesar de praticamente desconhecido nas aulas de história, Mazzilli é oficialmente considerado como o 23º e o 25º presidente do Brasil. 


Esses dois períodos, porém, se caracterizaram por pouca influência de Mazzilli nas decisões políticas. Com saúde frágil, problemas renais e anorexia, era jocosamente apelidado de modess: descartável, estava sempre na hora e lugar certo para evitar derramamento de sangue, segundo Lira Neto em seu livro Castello: A marcha para a ditadura.
Linhares, Luz, Ramos ou Mazzilli: nenhum deles teve o glamour de JK, nem a importância de Getúlio, muito menos a popularidade de Lula. Todos eles, porém, deixaram suas marcas em nossa história. Com governos curtos ou não, o fato é que qualquer mandatário tem e terá sempre importância, afinal suas decisões, por menores que sejam, definem os rumos de uma nação.

Num país que tem apenas 120 anos de vida republicana, com curtos períodos de democracia plena (com destaque para o atual), qualquer ato presidencial é notável e fundamental.


*Quando o texto foi escrito, estávamos no final do segundo mandato de Lula, após a primeira eleição de Dilma.

** O jornalista Guilherme Magalhães é repórter da Folha de S. Paulo.

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