segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Paris, Mariana e a estupidez das redes sociais

Se você não passou as últimas semanas numa caverna isolada do mundo, deve ter acompanhado a tragédia ambiental da região de Mariana (MG), uma das maiores da nossa história, causada pelo derramamento dos resíduos de minérios da empresa Samarco/Vale. Os danos para o meio ambiente e para a população da região ainda estão sendo mensurados, assim como os responsáveis por este crime, que precisam ser devidamente identificados e punidos. É o que todo o país clama.

Em paralelo, na última sexta-feira 13 de novembro, ataques terroristas orquestrados pelo Estado Islâmico em vários pontos de Paris (França) mataram mais de 120 pessoas inocentes. Tragédia de proporções similares ao 11 de setembro norte-americano, e ao atentado no metrô de Londres em 2005, entre outros tantos ao longo dos anos, o fato é que o cenário geopolítico mundial está mais uma vez à beira de um conflito cujas dimensões ainda ignoramos.


Nas redes sociais - esse território livre para todos emitirem suas opiniões, por mais absurdas e sem fundamentos que sejam - ambas as tragédias estão mobilizando brasileiros, como não poderia deixar de ser. Até ai tudo bem. Mas sempre tem um "porém": não contentes em lamentar por Mariana, ou mudar a cor do avatar para a bandeira francesa - ferramenta criada pelo Facebook mundial, assim como na ocasião da aprovação do casamento gay nos EUA, na metade do ano - as pessoas começaram a se atacar mutuamente.
Uns são chamados de seletivos, "paga-paus de franceses", outros de bairristas, que "só enxergam o próprio umbigo", e por ai vai. E as tragédias na África? E os milhares de mortos todos os dias pela violência? Por que estes não merecem lamentos e um avatar no face?

Oportunamente - e bem antes dos atentados na França, em 13 de julho - o ator e humorista Gregório Duvivier publicou em sua coluna semanal na Folha de S. Paulo um texto que descreve bem o estado de estupidez que estamos vivendo nas redes sociais: "Não quer ajudar, não atrapalha". Em resumo, Gregório afirma que toda batalha pode ser ridicularizada, relativizada, geralmente por pessoas que não se envolvem em batalha alguma. 


Nas palavras do ator, "o problema é exatamente esse: alguém fazendo alguma coisa lembra a gente de que a gente não está fazendo nada. Quando o vizinho separa o lixo, você se sente mal por não separar. A solução? Xingar o vizinho, esse hipócrita que separa o lixo, mas fuma cigarro. Assim é fácil, vizinho. Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada —melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa. Como diria minha avó: não quer ajudar, não atrapalha".


Quem não faz nada pra mudar o mundo está sempre muito empenhado em provar que a pessoa que faz alguma coisa está errada —melhor seria se usasse essa energia para tentar mudar, de fato, alguma coisa

E o pior de tudo: correntes e grupos políticos entram no meio, dizendo que este ou aquele posicionamento é influenciado "pelo capitalismo ocidental" ou "pelo projeto de ditadura comunista" - aquele que o PT está implantando no Brasil desde 2003, sabe? Pois é...
Se você trocou as cores do seu avatar e se preocupa com a situação mundial daqui pra frente, ótimo. Se você compartilha e acompanha todos os desdobramentos da tragédia de Mariana, ótimo. Se você defende outras bandeiras importantes como o Fora Cunha, a Operação Lava Jato, o fim da homofobia e do racismo, o Feminismo e tantas outras bandeiras sociais louváveis, continue seu ativismo. O Brasil e o mundo precisam de você.

Agora se você só senta em frente a um computador, ou pega seu smartphone para criticar e criar teorias bizarras sobre o ativismo alheio, seja ele qual for ou de onde vier, um recado: você pensa de uma maneira burra!

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